Liguei o chuveiro e deixei a água me limpar, soltei as lágrimas que há muito guardava, tentei fazer com que os problemas e as dúvidas escorressem pelo ralo. Fingi que estava bem. Embora não esteja.
Percebi que a dor continuava guardada aqui dentro, pequena, porém viva. As dúvidas não acabaram, as certezas ainda eram pouquissímas e os problemas, os quais é bem provavel que eu os tenha criado, continuavam sendo barreiras altas demais para serem escaladas.
Eu continuei me importando.
O que tanto me aflingi é saber que ainda sou aquela menina tolinha que se apaixona fácilmente e você, considerando que eu esteja lúcida, parece ter saído dos meus sonhos de criança, da época em que dizia que “o meu marido teria uma pele bem branquinha, o cabelo e os olhos negros e seria bem mais alto do que eu”, e, acredite se quiser: um rosto muito parecido com o seu me vinha à mente.
No entanto, já tenho maturidade o suficiente para perceber pelos seus modos que, provavelmente, você seja um rapaz volúvel, que “ama” alguém por um dia e, no seguinte, se apaixona por outra sem nunca se apegar a ninguém. Eu notei em ti uma certa insensibilidade às palavras que tanto me abalaram naquela palestra jovem sobre, justamente, amor e namoros.
É por isso que estou aqui há tanto tempo, refletindo, é por me importar com você, com o que acho que comecei a sentir por ti. É por me importar em não me ferir e, do mesmo modo, em conseguir a felicidade, o aconchego, que encontro na tua presença.
Estou achando que quero correr riscos, apesar de tudo. Ao menos uma vez, não vou ficar esperando que as coisas caiam do céu. Talvez, eu esteja me preparando para “brincar com fogo” ao amar alguém inconstante, entretanto, há a probabilidade de o meu julgamento estar errado…
Desliguei o chuveiro e sussurrei: “Desta vez, prometo, não chorarei por coisas vãs. Eu apenas seguirei em frente, começarei do zero, de cabeça erguida”.